domingo, 20 de abril de 2008

Difícil Decisão

No dia 18/04 fiz minha ultima quimio vermelha e quando já estava me preparando para em seguida fazer 12 sessões semanais de taxol e herceptin, me organizando inclusive para brigar com meu convênio, que talvez negasse o pedido, encontrei meu médico e ouvi que, depois de conversar com outros colegas oncologistas, concluiu que o tratamento não me asseguraria 100% evitar uma recidiva, seria mais toxicidade sem segurança nenhuma que eu estaria livre de uma vez desse fantasma...Que o numero de pesquisas com mulheres que tiveram recidiva usando taxol é o mesmo de mulheres que tiveram recidiva e não tomaram. E o pior: que a decisão estaria em minhas mãos!


Decidir se vale a pena de correr o risco de ter uma neutropenia e ficar em isolamento no hospital, sentir fortes dores musculares, engordar de 10 a 15 quilos por causa dos corticóides, antialérgicos necessários junto com o taxol, para não ter a certeza de que será válido....


Fazer uso ou não?! Confesso que essa decisão tem me tirado o sono... Mas irei resolver, conversando com meus outros médicos...


E por falar em sono, até hoje 2 dias depois da "danada" vermelha, não tenho sentido tanto os efeitos quanto das outras. Um pouco tonta, e com um pouco de náusea, mas nada insuportável..


O que não vou abrir mão é do Herceptin (remédio necessário e específico para o tipo de Cancer que tive (HER2)), tratamento que irá durar um ano, e que me fará continuar com o cateter para poupar minhas veias.


Hoje recebi visitas de minha amiga Ruth, seu marido Manoel e sua linda filha Anaterra, visitas também ao Miguel. Ruth está se preparando para passar 40 dias em São Paulo, longe de sua família, fazendo radioterapia, para não ter que ficar mendigando atendimento em nosso hospital referência de tratamento ao câncer Ofyr Loyola, para não ter que se deparar a cada sessão com a situação deprimente dos pacientes que não têm outra alternativa a não ser ter que passar por humilhações e descasos daquele hospital e principalmente para não correr o risco de ter que parar o tratamento na metade, pois o único aparelho vive quebrando.


Tudo isso me leva a refletir que, nós, amiga, temos mais é que agradecer a Deus todos os dias, por temos condições de recorrer a um tratamento mais digno.


Antes mesmo de sair para a quimio, chorei ao assistir na tv, sobre a morte de uma mulher de 35 anos, vitima de cancer no ovário, que morreu em sua casa, pele e osso, sofrendo, após rastejar por vários dias atrás de uma vaga para internação (que nunca existe) naquele hospital, em vão. Só lhe restou voltar para casa, deitar em sua cama e esperar a morte chegar...


A televisão tem, insistentemente mostrado desde o final de março, o caso da menina Isabella, que consternou o país, ao morrer após ser jogada, do sexto andar do edificio em que morava com o pai e a madrasta, que por sinal são suspeitos de tamanha frieza e brutalidade.


Tudo bem, nos revoltamos e nos emocionamos. Mas quantas Isabellas morreram nesse ínterim, nas favelas, nos subúrbios, pelos mesmos motivos ou por motivos mais graves ainda, de fome por exemplo, sem que tivéssemos conhecimento?!


Esses motivos sim, assim como daquela mulher, deveriam ficar martelando em todos os canais de televisão durante vários meses, para quem sabe, sensibilizar os nossos governantes. Nesses casos, pode-se fazer alguma coisa para evitar essas mortes e todos ficam cegos, surdos e mudos diante de tamanho descaso.


Nesse país, pobre é proibido de adoecer!

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