Incrivel como quanto mais estudamos doutrinas, religiões e ciencia, que nos mostram que estamos aqui só de passagem, que a vida do outro lado continua, que descansaremos eternamente, que é inevitável, que é a única certeza que temos na vida e etc... ainda sofremos muito com a perda de entes queridos e continuamos com medo de fazer "a viagem". Não conseguimos nos desapegar da matéria, pois somos seres humanos egoístas demais, ao ponto de, as vezes, preferir que a pessoa que amamos continue aqui ao nosso lado, sofrendo, do que termos que nos despedir e deixá-las ir "descansar".
A morte nos ronda o tempo todo,independente de estarmos doentes ou saudáveis, uma hora, por um motivo ou outro, ela nos abraçará, ou a um dos nossos próximos, mesmo assim, nunca estamos preparados para ela. Por ter essa certeza, deveríamos viver sempre intensamente, ou, sem deixar de ser clichê, cada dia como se fosse o último, não sair de casa sem dar aquele abraço apertado, aquele beijo, sem dizer eu te amo, pode não existir uma outra oportunidade para que você faça isso. Senti tudo isso quando recebi o diagnóstico de minha doença, ou melhor, da doença que TIVE.
Outro dia, por ocasião do acidente com o Air Bus da Air France, me vi frente a frente com essa situação outra vez...Imaginem que meu marido, há dois anos e de 2 em 2 meses, pega esse voo, mesmo trajeto, pra ir até Paris e de lá pro Marrocos ou Senegal, depois segue pra Guiné, onde trabalha. Quando soube do acidente, meu coração parece que parou por uns segundos..Imaginei o risco que ele correu, e que ainda corre, em busca de nos proporcionar uma vida tranquila e confortável. Até que ponto vale à pena?! Tudo pode acabar em questão de segundos, e quanto tempo longe um do outro, quantos momentos desperdiçados e que não voltam mais. Quantos sonhos não se foram naquele acidente, quantas emoções, quantos sentimentos...
Li em algum lugar um artigo escrito por uma jornalista, amiga da mãe de uma das vitimas, um rapaz jovem, que estava voltando pra Paris,após ter vindo para o sepultamento de seu pai morto de um infarto fulminate uma semana antes...Poxa, duas grandes perdas em tão pouco tempo, que tragédia na vida dessa pessoa. E a jornalista questionava exatamente isso: como sobreviver a essas perdas?!
O rapaz que morava em Paris, ao receber a noticia da morte do pai,achou que sua vida havia acabado, mal sabia ele o que ainda estaria por vir. A mãe achou que seu mundo havia desabado com a morte do marido,mal sabia ela que poderia ficar pior ainda...
Perdi um amigo virtual na segunda feira, que lutava contra uma recidiva de Sarcoma de Ewing. O mais interessante é que no domingo a noite nos falamos no MSN e ele se mostrava bem e confiante, animado..E no dia seguinte se foi, para espanto de todos nós, seus amigos, que estavamos felizes com seu retorno ao chat.
Uma sensação de impotencia diante disso, é o que sentimos e nós que lutamos contra essa doença, nos sentimos tambem muito frageis e vulneraveis, sem lembrar que muita gente saudável pode partir antes de nós,pelos mais diferentes motivos, pois como disse Nelson Rodrigues: "Com sorte, você atravessa o mundo. Sem sorte não atravessa a rua”.
Ante essas situações,o que dizer à familia, aos amigos e até a nós mesmos?! O psicólogo LUIZ ALBERTO PY responde: “O que a gente teve não perde. As lembranças estão dentro de nossa memória. Quando uma tragédia assim acontece, o que se perde é o prosseguimento, é o futuro. E o futuro é virtual, uma expectativa de algo que damos como certo, mas não é. Não se perde o passado. Isso pode parecer meramente racional – e é, porque a emoção não se traduz. Não se perde alguém que existiu. O que se perde é uma expectativa. Isso não é consolo, mas pode ajudar a retomar a vida. Pensar não no que perdi, mas no que tive o privilégio de viver. O passado precisa ser uma referência para a gente se nutrir. E não para se lamentar. Há várias formas de conviver com a saudade”.
Entao eh isso....