quinta-feira, 25 de junho de 2009

A morte, a viagem, a partida, ou como você se refere a essa certeza

Incrivel como quanto mais estudamos doutrinas, religiões e ciencia, que nos mostram que estamos aqui só de passagem, que a vida do outro lado continua, que descansaremos eternamente, que é inevitável, que é a única certeza que temos na vida e etc... ainda sofremos muito com a perda de entes queridos e continuamos com medo de fazer "a viagem". Não conseguimos nos desapegar da matéria, pois somos seres humanos egoístas demais, ao ponto de, as vezes, preferir que a pessoa que amamos continue aqui ao nosso lado, sofrendo, do que termos que nos despedir e deixá-las ir "descansar".
A morte nos ronda o tempo todo,independente de estarmos doentes ou saudáveis, uma hora, por um motivo ou outro, ela nos abraçará, ou a um dos nossos próximos, mesmo assim, nunca estamos preparados para ela. Por ter essa certeza, deveríamos viver sempre intensamente, ou, sem deixar de ser clichê, cada dia como se fosse o último, não sair de casa sem dar aquele abraço apertado, aquele beijo, sem dizer eu te amo, pode não existir uma outra oportunidade para que você faça isso. Senti tudo isso quando recebi o diagnóstico de minha doença, ou melhor, da doença que TIVE.
Outro dia, por ocasião do acidente com o Air Bus da Air France, me vi frente a frente com essa situação outra vez...Imaginem que meu marido, há dois anos e de 2 em 2 meses, pega esse voo, mesmo trajeto, pra ir até Paris e de lá pro Marrocos ou Senegal, depois segue pra Guiné, onde trabalha. Quando soube do acidente, meu coração parece que parou por uns segundos..Imaginei o risco que ele correu, e que ainda corre, em busca de nos proporcionar uma vida tranquila e confortável. Até que ponto vale à pena?! Tudo pode acabar em questão de segundos, e quanto tempo longe um do outro, quantos momentos desperdiçados e que não voltam mais. Quantos sonhos não se foram naquele acidente, quantas emoções, quantos sentimentos...
Li em algum lugar um artigo escrito por uma jornalista, amiga da mãe de uma das vitimas, um rapaz jovem, que estava voltando pra Paris,após ter vindo para o sepultamento de seu pai morto de um infarto fulminate uma semana antes...Poxa, duas grandes perdas em tão pouco tempo, que tragédia na vida dessa pessoa. E a jornalista questionava exatamente isso: como sobreviver a essas perdas?!
O rapaz que morava em Paris, ao receber a noticia da morte do pai,achou que sua vida havia acabado, mal sabia ele o que ainda estaria por vir. A mãe achou que seu mundo havia desabado com a morte do marido,mal sabia ela que poderia ficar pior ainda...
Perdi um amigo virtual na segunda feira, que lutava contra uma recidiva de Sarcoma de Ewing. O mais interessante é que no domingo a noite nos falamos no MSN e ele se mostrava bem e confiante, animado..E no dia seguinte se foi, para espanto de todos nós, seus amigos, que estavamos felizes com seu retorno ao chat.
Uma sensação de impotencia diante disso, é o que sentimos e nós que lutamos contra essa doença, nos sentimos tambem muito frageis e vulneraveis, sem lembrar que muita gente saudável pode partir antes de nós,pelos mais diferentes motivos, pois como disse Nelson Rodrigues: "Com sorte, você atravessa o mundo. Sem sorte não atravessa a rua”.
Ante essas situações,o que dizer à familia, aos amigos e até a nós mesmos?! O psicólogo LUIZ ALBERTO PY responde: “O que a gente teve não perde. As lembranças estão dentro de nossa memória. Quando uma tragédia assim acontece, o que se perde é o prosseguimento, é o futuro. E o futuro é virtual, uma expectativa de algo que damos como certo, mas não é. Não se perde o passado. Isso pode parecer meramente racional – e é, porque a emoção não se traduz. Não se perde alguém que existiu. O que se perde é uma expectativa. Isso não é consolo, mas pode ajudar a retomar a vida. Pensar não no que perdi, mas no que tive o privilégio de viver. O passado precisa ser uma referência para a gente se nutrir. E não para se lamentar. Há várias formas de conviver com a saudade”.
Entao eh isso....

quarta-feira, 10 de junho de 2009

As sementes da vida

Hoje, creio que não por acaso, justo hoje, uma vez que sinto que nada assim acontece, me deparei com este texto/mensagem de DOL BACELAR, que achei, além de lindo, muito conveniente e oportuno diante de uma certa situação que passamos, nós os amigos da comunidade de quimioterapia. Portanto aqui vai ele, para todos nós e em especial para Ludmila, pessoa a qual admiro e sou muito fã, com um beijinho no coração de cada um de vocês:

"- Jardineiro – disse-me o “rishi” – onde estão as tuas flores? Chegou a primavera e teu jardim está sem vida... Não plantaste novas SEMENTES?
- Plantei, mas não brotaram. Veio a larva e as devorou uma por uma.
- Então não sabes, Jardineiro, que as larvas nascem do descuido? Os jardins são como os corações, necessitam de cuidados constantes... Se não forem regados com as águas do amor, se não o adubarmos com a seiva da virtude, não terão vigor para brotar, e serão crestados pelas larvas da cupidez, ganância e corrupção, tudo pela nossa imprevidência.
- A terra parecia fértil e boa, mas enganou-me. Sempre a cultivei sem adubá-la. Foi a primeira vez que não me deu flores na primavera. Até os gerânios pereceram...
- Jardineiro, nós é que falhamos ao julgar pelas aparências. Não foi a terra que te enganou; ela deu-te aquilo que possuía... Antes de plantar é preciso revolver a terra, penetrá-la intimamente até onde alcançarem as raízes do nosso bom sendo. Do contrário será inútil todo esforço, e vã a SEMENTEIRA.
- O calor do verão tirou-me o ânimo de trabalhar a terra. Apenas semeei na superfície. Com isso, evitava também calejar as mãos.
- O mesmo acontece aos corações, Jardineiro. Como podemos censurar-lhe erros e falhas, se não soubemos dizer não ao que acreditávamos justo e razoável, embora não fosse correto e direito? Como colher gerânios na primavera, se não soubemos bem cultivar na época do plantio?... Se permitimos que as larvas, em sua voracidade e ignorância, destruíssem as SEMENTES da vida em nosso jardim?... Dize-me, Jardineiro, que farás agora do teu jardim?
- Voltarei a ele, mestre... Afastarei dos canteiros as larvas e ervas daninhas... Devolverei à terra a pureza e a benignidade de quando a recebi, adubada pela sabedoria e experiência dos semeadores da Natureza.
- Sim, Jardineiro... volta ao teu jardim. Cultiva-o com carinho e prudência, para que na próxima primavera tua colheita seja um poema de cores, perfumes e luz, encantando a terra e os ceus. "

"Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, imaginemos com que imenso amor nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração. " André Luiz.Psicografia de Francisco Cândido Xavier.Livro:- Sinal Verde.

sábado, 6 de junho de 2009

Voltando

Após alguns meses afastada daqui, hoje resolvi, incentivada pelo meu querido amigo Dan, voltar a escrever.
O problema todo está em um pequeno ser, de apenas 01 ano e 5 meses de idade, hiperativo, que não tem me dado tempo pra nada, a não ser cuidar dele...Babás já desisti de tentar, a última sumiu ha uma semana, sem nem dizer tchau.
Hoje estou triste, chateada, revoltada sei lá...É, porque uma tem que cuidar do Miguel enquanto a outra cuida da casa. E creio que se ela puder escolher,prefere fazer tudo isso, porque ele é muuuito levado, requer dedicação total e exclusiva.
Hoje nos estressamos, discutimos, sei lá...
E estou mal...
Bad Day para voltar a escrever...
Ainda assustada com esse acidente do avião da Air France, vôo que meu marido pega sempre, pra voltar pra Africa, de 2 em 2 meses; Sem empregada, que depois de ajudá-la bastante, ela decidiu me deixar na mão, sem sequer um aviso; a decisão de ir embora pra Fortaleza, nem que o Rafa tenha que deixar a empresa pra conseguir ficar no Brasil...
Essa vida voltando ao normal é fogo!
E por falar em vida normal, após terminar o tratamento, há 01 mês, tento estar tranquila, mas confesso que estou meio paranóica com alimentação, comportamento e etc...Será que vale a pena me privar de tanta coisa?
No supermercado encontrei uma pessoa que me disse: "Uma amiga sempre foi vegetariana, a vida inteira, só legumes, verduras, frutas, nunca tomou refrigerante e teve um cancer na garganta..."
Ah sei lá, prefiro apostar em Deus e ir controlando as coisas sem exageros, devagar..Mas os aborrecimentos são inevitáveis, não passo um dia sem stress e sei que isso pode ser pior que a má alimentação...
Anteontem fui a primeira vez fazer heparenização no meu catéter, decidi ficar com ele por mais algum tempo, ou pelo menos até decidir sobre a reconstrução..Mas pretendo voltar a falar nisso só no próximo ano, quero dar uma relaxada e esperar Miguel ficar um pouco maior e a vida se ajeitar mais...
Envio um abraço enoorme ao meu amigo Dan, pelo incentivo e pra todos os meus amigos da Comunidade "FAÇO/JÁ FIZ QUIMIOTERAPIA", que me ajudam demais, nos momentos de descontração nos chats, a fazer o tempo passar mais rapido e a enxergar, em cada um, um incentivo a mais, uma força a mais, para continuar acreditando na vitória...
Vou parar de escrever, porque, além de hoje eu não estar legal, Miguel não está colaborando comigo, parece testar minha paciencia a cada instante...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Noticias





Estou muito bem, continuo fazendo as aplicações de Herceptin, de 21 em 21 dias, devo terminar no final do mês de abril. Depois disso, penso em fazer um exame, o Pet CT, pra avaliar o tratamento.

Meu cabelo não para de crescer e estou até acostumando com ele curto, todos falam que tem muito mais a ver comigo, ficou mais moderno e fashion. Deixa rolar, rsrsrs...

Miguel fez 01 ano e é muito saudável e levado, às vezes me pego pensando se vou dar conta de criá-lo, pois tenho dificuldades para acompanhá-lo (ainda não sei se é preguiça, comodismo ou efeito da quimio,rsrsrss)
Meu marido continua trabalhando na Africa, passa agora 60 dias lá e 20 aqui. Sentimos muita falta, mas não tem outro jeito..Até que ele já tentou alguma coisa aqui, mas o salário não compensava.
Voltei agora a estudar, tentar um concurso para ajudá-lo...
Tentei algum beneficio junto ao INSS, mas, apesar de tantos anos de contribuição, não consegui..A médica que fez a perícia disse que estava "ótima". Confesso que não tive forças para recorrer, para brigar, o que passei já foi demais pra mim..E agora é voltar à vida normal...
Bem, tentarei achar tempo para continuar postando, porque devo confessar, estava acostumada aquela vidinha mais tranquila....