sábado, 29 de dezembro de 2012



Maneiras de Amar

Nas minhas andanças por aí, me deparei e me deparo diariamente com muitas coisas interessantes, muitas coisas lindas e tocantes. Seja um lugar, uma fotografia, um poema (que eu amo!), um texto e a sensação que tenho é de que, de nada vale eu sentir aquela emoção naquele instante, se não puder compartilhá-la com os que amo, ou com quem precisa daquela emoção, os mais sensíveis, os mais "durões", afinal, felicidade não é nada se não for compartilhada, é como a luz, como o amor e enfim, como todas as coisas boas e lindas da vida. Uma pessoa pode até esquecer o que você fez por ela, mas jamais irá esquecer como você a fez sentir. Drummond está entre meus autores e poetas preferidos (e são tantos!), e ele sempre me surpreende, como nesse conto que acabei de ler e divido com vocês. Chama-se Maneiras de Amar, do livro Contos Plausíveis. Embora o poeta seja conhecido justamente por suas poesias (quem diria, não?), os seus contos são absolutamente espetaculares. São de uma simplicidade incrível, mas são sempre profundos, poéticos até mesmo. São dois os personagens principais: o jardineiro e o girassol, que é uma flor linda e simbólica que significa fama, sucesso, sorte e felicidade.
A flor pode ser considerada a planta-símbolo do Novo Milênio.
O girassol é um símbolo da páscoa, apesar de poucas pessoas saberem. Girassol é um dos símbolos pascais menos conhecidos em algumas regiões. É, porém, muito rico em conteúdo: assim como para sobreviver a planta precisa ter sua corola voltada para o sol, do nascente ao poente, segundo os cristãos, os seres humanos devem estar voltados para o Sol-Cristo garantindo a luz e a felicidade. O conto se reporta ao amor e suas diferentes formas, e são tantas, não é verdade?! Quem ama diferente não ama menos...Vale à pena a reflexão...
Maneiras de Amar

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não", respondeu "estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso e gostava".

                                                  Carlos Drummond de Andrade 

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom!!